Entrevista com Rodrigo Didier

Quando começou a praticar esportes com os cães?
A uns 12 anos.

Qual esporte com cães você pratica e quais seus reais interesses no esporte?
Schutzhund.
Atualmente tenho interesse em ter uma atividade saudável para meus cães, gradua-los e assim participar do programa de criação, e de quebra divulgar meu tipo de trabalho, favorecendo meu marketing pessoal.

Você utiliza o qual a raça para o esporte, Por quê?
Eu possuo Pastor Alemão.
Sem nenhum motivo especifico, aconteceu, mas teria cães de outras raças que tivessem capacidade de trabalho, mas de preferência dentro de linhagens que fossem direcionadas no mesmo processo seletivo.
Mas atualmente, tenho que levar em consideração que é mais fácil encontrar cães de qualidade dessa raça para treinar, e a maioria das provas que acontecem por aqui são direcionadas para o PA.

Qual sua maior e melhor conquista nestes anos todos como esportista?
Por incrível que pareça, A conquista mais importante para mim foi o 1° Lugar no 1° Campeonato Carioca de Trabalho - Categoria CAB com a minha cadela Shadow, que foi a cadelinha da minha vida.
Apesar de ter tido alguns títulos nos principais estados, em todos os Graus do sch, não tenho a pretensão de acreditar que tive grandes conquistas, aqui ainda é terra de cego, não apresentei nenhum trabalho primoroso de alta pontuação, sou muito auto critico não fantasio, tenho muito trabalho a fazer e muito a evoluir, mas mesmo assim fico feliz de ter graduado alguns cães e treinado algumas pessoas que praticam o esporte.

Nos conte um pouco sobre representar o Brasil lá fora.
Nunca viajei com meus cães, nem pretendo por enquanto, é caro, e não tenho estrutura de treino para atingir um nível competitivo lá fora, porém teria muita vontade de treinar lá, e isso pode acontecer, O Bart Bellon me convidou por alto para participar de um training camp e fiquei bastante inclinado a ir... mas me informei sobre os custos, desanimei.
Mas posso te afirmar, se um dia eu for competir não estarei representando o Brasil, o povo aqui não tem cultura cinófila, estarei representando quem me passou as técnicas, minha equipe, quem patrocina e me motiva a continuar treinando, aqui no Brasil, no nosso meio a cultura não é em prol do esporte, mesmo por parte dos atletas, as forças políticas envolvidas no esporte só querem puxar sardinha para seu lado, em uma política que não anima nem favorece. Uma palhaçada egocêntrica sem fim.
Você trabalhou pessoalmente com alguns treinadores que são ícones no esporte mundial?
Só tive contato com esses treinadores em seminários no qual participei como aluno, e tive grande satisfação por ter sido elogiado e falarem que estava no caminho certo com meus cães, e o melhor reforço que posso ter no momento, e é o que me anima a continuar treinando e tentando aperfeiçoar.

Qual a sua crença com relação aos métodos de ensino?
Torço o nariz para métodos que se fecham em apenas um ponto de vista , como se isso fosse possível, muito profissional esta criando preconceito desmerecendo outras maneiras de treinar, pior muita dessa gente nunca formou um cão sequer no grau 1, muita coisa não se encaixa ao meu ver, existem coisas que são necessárias, que muitas pessoas simplesmente não querem ver.
Eu não acredito em novas metodologias ou antigas metodologias, eu optei por experimentar diferentes métodos e caminhos para ampliar minhas ferramentas de trabalho, Eu acredito que para poder criticar determinado caminho eu preciso conhecer o e experimentar o mesmo, saber os pros e contras.
Acho que cada um deve desenvolver ou seguir uma metodologia, mas não deve ficar escravo dela, ou completamente cego para outras coisas que por sei lá que razão não atingem ou não querem ver.
Porque as situações de treinamento estão mudando hoje em dia?
Em que sentido? Eu acho que devemos tomar mais cuidado em relação as atitudes durante o treino para com nossos cães, as pessoas não entendem na maioria das vzs o q esta acontecendo lá, interpretações podem ser prejudiciais, nossos cães são diferentes da maioria dos cães, são cães que aceitam melhor os desafios, e possuem capacidades extras para resolver problemas, existem caminhos que estão longe de pular amarelinha para chegar ao resultado desejado, eu sou da teoria que sem risco não existe emoção, vejo isso em qualquer esporte radical.
E equipamentos de treino venho observando que a coleira eletrônica tem sido uma ótima maneira de tornar a formação mais fácil, o treinamento baseado em reforçadores também, a comunicação vem melhorando muito a capacidade do cão interagir com o aprendizado, Apesar de saber o que estou fazendo, já vi gente ficar com dó de eu colocar animal em caixa, de um leigo ainda vai, mas não consigo entender a aversão de algumas pessoas para o uso de ferramentas que aumentem o desafio, se estalamos um chicote para trabalhar a emoção, ou usamos os aparatos necessários para gerar controle somos mal interpretados, vejo muita gente lá fora treinando em galpões e em clubes, isso que facilita um pouco, mas a imagem do esporte sempre vai estar em jogo, temos que informar corretamente as necessidades de um cão de trabalho, temos que formar opinião e não ficar dependente de uma mídia tendenciosa e desinformada.

Qual foi o seminário que mais valeu a pena?
Todos eles tiveram importância, sempre captamos detalhes e conceitos, cada um em seu momento, a cada seminário que você vai, você obtém respostas para diferentes perguntas, mas eles nunca vão te dar todas as respostas, algumas coisas podem não ser interessantes se você não esta no momento certo para entender, ou algumas vezes o seminário não esta visando algo que esta no seu nível.

Como você evoluiu como condutor e treinador?
Não estou evoluído, estou em evolução constante, fora a qualidade dos meus cães, eles sempre me ajudam, a coisa que mais me ajudou foram vídeos, companheiros de treino, cursos e seminários, não tenho medo de arriscar, testar coisas novas.

Qual a fase mais fácil em sua opinião? Por quê?
Faro, se você tem um cão com boa predisposição para comer não tem muito mistério, o faro não tem influencia direta do figurante nem do treinador, o cão trabalha independentemente, em emoção baixa, se você sabe reforçar um cão no continuo e sabe passar para o intermitente fechando ele para operar corretamente não vai ter muita dificuldade, a parte técnica não é muito elaborada já vi treinadores sem sucesso nas outras seções terem muita facilidade nessa seção.

Qual a mais difícil? Por quê?
A obediência, qualquer besteira que você faça vai influenciar o todo, ela esta presente em todas as seções, é muito difícil manter a emoção mantendo o cão preciso e motivado para trabalhar, são exercícios diferentes com montagem de blocos elaboradas, ela define a capacidade de relacionamento entre treinador e o cão, uma base de obediência bem feita pode resumir muito o tempo de treino e evitar muitos conflitos.

Recentemente você postou alguma coisa sobre a dificuldade do treinamento de faro, isto te incomoda um pouco?
E uma questão logística, eu moro no Rio de janeiro é um local montanhoso com áreas de floresta, os lugares melhores estão a alguma distancia.
Os parques abertos com gramado geralmente são áreas de recreação da população, muito lixo, resíduo, a temperatura e o transito e horário não ajudam, eu odeio acordar muito cedo, treino faro porque é obrigatório para graduar o animal, tento sempre facilitar ao máximo o entendimento do cão, e treino o mínimo da melhor maneira possível para tentar graduar, que é longe do desejado um pouco mais de constância seria ótimo, e eu não tenho e eu pago por isso.
Você treinou faro com o Jackes por um tempo, isso foi no Rio ou em São Paulo? Qual foi a intenção e o aprendizado?
Foi em um período que fiquei treinando e sugando informação em Sampa, ralei que nem um condenado rsss, muito perrengue, dormi na sala das pessoas, em guaritas de canil, limpei muita merda... o Jackes é um dos melhores treinadores no qual eu convivi, trabalhei para ele no Thor e Tina, e ele tem grande facilidade de convencer a gente ter disciplina em treino rsss... e me passou muita informação que me ajudou a entender o todo. Fora que naquela época treinavam constantemente juntos ao Jackes, Ceará, Leandro, Rogerio, Serjão, Victor, Jesus, Carreira e todo grupo do Obelisco. Se contar que treinei com Mario Sergio em Suzano, e a turma da SVCPA, Acho que durante essa viagem troquei muita figurinha boa, conheci pessoas maravilhosas que não pretendo perder a amizade, e sempre que possível eu tento treinar, me lembro uma vez voltando do Sul parei para treinar com Leandro, e os Segalinas e segui viagem para o Rio, fora que é mais tranquilo treinar com pessoas com que vcx não precisa se preocupar o tempo todo em orientar, e já tem a cultura de interagir.
Qual a relação entre o esporte e a criação?
O sch por exemplo, em sua origem é um esporte de seleção, e é necessário para manter uma boa qualidade media do plantel, forçando um gargalo seletivo no qual eu acredito isso impossibilita a cegueira de canil e direciona uma seleção comportamental extrema, que não existe nas exposições.

Como você escolhe um filhote para o Esporte?
Tenho interesses também em criação, portanto primeiro vejo linhagem, e atualmente dou preferência a criadores no qual eu conheço e tenho empatia, não só para minhas escolhas mas como a de meus clientes, já vi animais bons em todos os canis que conheci mas dou preferência a criadores que eu conheço confio e entendem realmente de cão, pois já competiram e sabem o que eu procuro, não perco meu tempo nem o tempo deles.
Nos animais procuro os instintos necessários pois sem eles não terei os reforçadores que necessito para moldar os comportamentos desejados na prova, e cães com boa estabilidade emocional, cães instáveis tem dificuldade de aprender e responder aos estímulos, cães muito defensivos ou inseguros dão mais trabalho e dificultam a formação, podemos até resolver todos os problemas na cabeça dos animais, mas não vale a pena, eu evito escolher e treinar animais assim, pois treino animais não só pelo esporte, treino também com a pretensão de participar do programa de seleção genética. Procuro ver animais mais energéticos, que procurem muito contato visual, sejam curiosos, gero alguns estímulos tácteis, sonoros e visuais, procuro cães que tem muita predisposição para comer, caçar, lutar, observo tudo isso em separado, e o mais importante com o cão separado da ninhada.
Logicamente a escolha de um bom filhote não te dá todas as garantias futuras, mas a escolha de um filhote que não apresente as características é um tiro no escuro.
A escolha é muito importante, atualmente até evito animar muito quem tem um cão fraco de treinar no grupo, explico claramente o que eu acho do cão, e falo de suas limitações, mesmo que o proprietário leve para o lado pessoal, a coisa já é difícil, e todos os proprietários que apareceram com cães fracos não chegaram a lugar nenhum, acabam por desistir, é estressante para o condutor, para o figurante e para o cão, dificilmente o proprietário tem capacidade de ver os defeitos do próprio cão e preferem culpar quem participou da formação, fora que as pessoas gostam de jogar pedras mesmo sem saber com o caminho foi construído, veem a qualidade sofrível do trabalho e jogam pedras no telhado, mesmo tendo um castelo de cristal, o resultado final é o espelho da qualidade do nosso trabalho, não é bom dar mole.


Qual seu ponto de vista da relação entre a educação do cão e confiança com o dono?
Os cães são oportunistas, possuem necessidades instintivas, devemos usar isso a nosso favor, reforçando qualquer comportamento que facilite o link, sempre devemos estar relacionados a estes mesmos reforçadores, temos que ter uma postura apropriada e atrativa, apresentar os estímulos com cuidado cientifico, e arrisco em dizer, até gerar áreas de conforto e dependência dentro de limiares que não atrapalhem o trabalho, relação de confiança não é algo preocupante, meus cães não tem outra opção, eu os direciono e condiciono a algo mais que uma relação de confiança, eu sou deus para meus cães.


Como ou o quê você faz no dia a dia com seu cão?
Eles têm uma vida comum, passeiam, correm, andam pela cidade como qualquer cão mal educado, não dou comando como em prova, não permito muita ligação com coisas ou pessoas quem estejam fora do programa de treinamento ou que possam influenciar de maneira indesejada, já recebi ate cartão de adestrador, não gosto muito de agitação dentro de casa, não permito latição, alimento de acordo com os horários e objetivos do treinamento, já no campo de treino a coisa muda, eles tem liga e desliga a cobrança é mais seria e emoção é colocada lá em cima.


Qual a diferença entre o relacionamento com seu cão de esporte, e com os cães dos seus clientes?
Trabalho no sentido de enaltecer as emoções e instintos em meus cães, geralmente em cães de cliente pet não tenho muita opção tento abafar os mesmos, só faço um trabalho mais da maneira que eu gosto se o cliente tem uma vida mais dinâmica, e total capacidade e interesse de interagir com um cão mais ativo, em cães de segurança gero maior independência são mais ativos do que reativos, isso quando possível, e trabalho mais a agressão sem me preocupar tanto com a qualidade de mordida e ou refino em obediência.


Como manter o equilíbrio entre a motivação e concentração?
O cão tem de ser motivável, os desejos instintivos criam a relação entre estimulo e os reforçadores, procuro direcionar o aprendizado criando meios para que o cão trabalhe concentrado e focado, inicio o treino em locais sem distúrbio ambiental algum, mas ai sempre vai ter influencia genética alguns cães são mais focados que outros, um cão pouco interessado nos reforçadores vai tender a ser disperso, pouco concentrado, cães assim eu gero áreas de escape para ele ter maior responsabilidade, a partir daí procuro reforçar de acordo com a emoção e objetivo, cães mais instáveis tendem a ser mais agitados e podem dificultar a precisão, o que vai definir a intensidade no qual o cão esta trabalhando é a emoção que você consegue proporcionar, e como o cão lida com ela, saber manter a emoção do cão e a motivação é mais importante que um deita ou um senta, dentro de uma sequencia ou rotina isso vai ser seu diferencial. Mas a concentração assim como qualquer comportamento, tem de ser reforçada corretamente.


Como você define um bom Cão para o esporte e sua relação com a mordida de boca cheia?
A boca cheia com mordida forte e estável representa para mim que o cão foi bem trabalhado em sua base, e possui estabilidade de sobra para trabalhar dentro dos desafios e stress... digo ele tem estabilidade para aprender a lutar corretamente em situações pesadas.
Mas têm outras coisas que observo - geralmente uma mordida fraca esta associada a pouca vontade de lutar e pouca intensidade, a mordida de bico, com ponta de boca geralmente é vista em cães inseguros que não estão a vontade com a situação, muitas vezes estão estourando o limite emocional, é comum ver isso em cães fracos e sensíveis, já vi, e já mexi aos bandos, cães defensivos preferem afastar o problema, ao contrario de dominar e resolver a situação, já o cão que picota muito geralmente tem problemas emocionais, o cão que mastiga forte e cheio pode ter sido mal treinado e mal reforçado não sabe resolver o problema pois não aprendeu a saída desejada, que seria tracionar e apertar mais, isso pode acontecer também quando foi usado material de formação inadequado.
A mordida cheia forte e calma será sempre desejada na seleção, é ai que eu vejo a parte emocional.

Qual o conselho você pode dar aos jovens que estão iniciando no esporte?
Apaguem tudo que escutaram sobre cães, ou do que é passado pela mídia, principalmente a que esta fora do esporte ou de cães de trabalho, compre todos os vídeos de treinamento possíveis, informe-se das necessidades do esporte e suas regras, vá a todos os seminários que seu dinheiro tem para pagar, escolha cães realmente trabalháveis que sobrem para função, e não se convença que este cão ou você é o melhor do mundo, sempre tente aprimorar, esteja aberto a todas as técnicas sejam com ou sem castigo, só critique aquilo em que você tem experiência comprovada, escolha um grupo com experiência comprovada, compre material de primeira para treino, estabeleça um objetivo claro .


Como você acredita que será o futuro do esporte na América Latina?
Não acompanho muito os acontecimentos em outros países, mas não temos mil clubes como na Europa, e não temos a condição financeira dos asiáticos e norte americanos, sobre qualidade de atletas algumas exceções podem aparecer, mas não seria considerado uma media, ou um numero significativo que represente algo perto do desejado, acho que vai demorar um pouco para sermos representativos, Mas já em cães tivemos um bom investimento, mas a turma anda falando tão mal dos cães um dos outros que impossibilita boas combinações e o desenvolvimento do plantel, um canil sozinho e canil que não gradua ou seleciona seus cães não vai conseguir ajudar muito na qualidade geral do plantel, mas por agora tem muito cão bom por ai.

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